Por trás de um legado existe uma lenda: Por que Fallen é “O Verdadeiro”?

Professor, capitão nato e eterno aprendiz. O verdadeiro não é aquilo que é imutável, mas sim o que se molda à sua realidade.

Não tem como você escrever a história do Counter-Strike sem citar Gabriel “Fallen” Toledo, e a recíproca também é um fato. Ambos estão diretamente ligados há 18 anos — caso fosse uma pessoa poderia até tirar a CNH. Nesta jornada, foi inevitável que apelidos fossem dados e, no caso do Fallen, “O Verdadeiro” tornou-se a sua melhor descrição. Convido você a, junto comigo, desvendar porque esse é mais que um apelido: é a essência.

A ponta do iceberg

Inicialmente, o apelido de “O Verdadeiro” foi dado ao Fallen graças a uma brincadeira do seu ex-companheiro de equipe e amigo, Fernando “Fer” Alvarenga. Em seus contatos com o público e transmissões em plataformas de streaming, o Fer constantemente chamava o Fallen de “O Verdadeiro Team Razer”, por estar sempre munido dos equipamentos da marca. O apelido se manteve com o tempo e muitos outros foram surgindo no decorrer dessa jornada, entretanto, nenhum deles se manteve tão vivo quanto “O Verdadeiro”.

É muito mais do que parece ser!

Este é o Fallen aos 12 anos, vencendo um título no Counter-Strike. Muito provavelmente ele, ainda um jovem aprendiz, não sabia o tamanho e relevância que teria. Mas qual seria a graça se soubesse? As dúvidas e dificuldades tornam a estrada muito mais bonita quando você alcança ou até ultrapassa seus objetivos. Para isso, ele sempre manteve a vontade de aprender e de evoluir e assim foi se tornando referência no cenário nacional.

Conquistando diversos títulos pelo interior de São Paulo, ainda muito jovem, Fallen foi convidado a fazer parte da FireGamers em 2009, ao lado de jogadores renomados como: fnx, nak e bruno. Neste mesmo ano Fallen conseguiu vencer seu primeiro título de nível nacional e conquistou uma vaga para a WCG na China. Na mesma época o CS se encontrava em baixa, e foi aí que o Fallen, até então aprendiz, se tornou professor.

Aulas, cria.

Em 2011, o Fallen teve a ideia de abrir a Fallen’s Academy (que mais tarde viria ser a Games Academy), um projeto onde o Professor, Fallen, daria aulas de Counter-Strike. Neste momento aflorava a parte “Marketeira” dele, além de se tornar um disseminador conhecimento. Ele construiu um negócio dentro da necessidade de um mercado que ele amava. 

O cenário de CS estava quase morto, jogadores antigos estavam abandonando o jogo por falta de competições e era necessário uma reciclagem. O Professor, que em qualquer âmbito é sempre a esperança de renovação pelo conhecimento, fez o que era esperado dele.

Durante alguns anos, Fallen se manteve dando aulas de Counter-Strike e contou com apoio de algumas pessoas. Mas em 2014, com o CS ainda em baixa, ele decidiu montar um time para disputar mais de um FPS (CrossFire e CS:GO).

O polivalente

Querendo ou não, a vontade de competir de um líder é insaciável. E por conta disso, nesta sua nova etapa de Professor/Jogador, Fallen liderou sua nova equipe a 6 títulos de 7 possíveis no CrossFire, guarnecido apenas pela sua vontade de competir, aprender e inspirar. 

Junto a isto, Fallen e sua equipe receberam convite para jogar um torneio internacional de CS:GO na França. Sem patrocínios, a parte marketeira do Fallen e o apoio da comunidade, que ele cativou e ajudou a ser constantemente alimentada, foram extremamente importantes. Necessitando arrecadar 30 mil reais para a viagem, ele decidiu que todo o dinheiro de inscrições na Games Academy, além de outras contribuições diretamente da comunidade, seriam utilizados para possibilitar a ida para o torneio.

Dias de luta

Após a ida para disputar a ESWC 2014 na França, com um resultado ruim veio o choque de realidade sobre o nível do cenário internacional. Então houve uma mescla entre a equipe da Kabum (equipe onde o Fallen atuava) e a TD, para que duas vertentes pudessem ajudar com os gastos para possíveis competições internacionais que viriam a ocorrer. 

Como nada até aquele momento era fácil, pois os investimentos eram grandes e o retorno financeiro era incerto, somente essa junção não foi o suficiente. Fallen e seus companheiros, por conta própria, tomaram a decisão de guardar os seus salários para, quando precisassem competir internacionalmente, terem o dinheiro necessário.

Durante este período, a MLG X-Games fez um torneio com vaga para uma equipe brasileira. A Kabum.TD conquistou a vaga para a competição com tudo custeado pelos organizadores do evento. Na competição, apesar de não ter conseguido passar de fase, Fallen e companhia venceram a Cloud9, que era considerada a melhor equipe americana. Isso criou uma certa atenção — extremamente necessária e que ainda não existia para o Brasil no CS:GO.

Após a eliminação, com o dinheiro que eles guardaram, aproveitaram a estadia nos Estados Unidos para disputar outro torneio em um estado diferente. Foram disputar a Clutch Con. Lá, Fallen e equipe não somente conseguiram passar de fase, como, nas quartas de final, conseguiram tirar um mapa da Fnatic (derrota por 2×1), que viria se tornar, um pouco depois, a melhor equipe do mundo e uma das melhores equipes da história do CSGO. 

O que até meses atrás, na França, era aparentemente impossível para a Kabum.TD, devido a discrepante de nível entre as principais equipes do mundo e eles, já não parecia tão distante. O sonho estava se tornando realidade!

Dias de glória

Tudo isso trouxe frutos, e a equipe do Fallen foi convidada pela organização da ESL One para participar do classificatório para o Major (campeonato mais importante do Counter-Strike). Porém, mais uma vez, a questão financeira era um percalço para os brasileiros. 

Novamente, com apoio da comunidade e graças à grande evidência que eles conseguiram pelos torneios anteriores, obtiveram ajuda não somente da comunidade local, como da ESEA (organização envolvida com E-sports) e do Robin “flusha” Ronnquist, que era jogador da Fnatic — até hoje um dos maiores nomes do cenário. Assim, eles puderam realizar a viagem, disputar o classificatório e conquistar a vaga para o Major.

No Major, Fallen e sua equipe, sob a organização da Keyd Stars, ganharam de todos os adversários do grupo e se tornaram Legends (equipes que ficam entre os 8 melhores colocados), o que garantia vaga direta para o próximo torneio Major. Após isso, as coisas começaram a acontecer muito rápido. Entre mudanças de line-up’s, o Fallen se tornou bi-campeão mundial, além de empilhar diversos títulos no CS:GO. Se tornou um dos jogadores que mais arrecadou em premiação, um dos maiores campeões de todos os tempos e com certeza uma das maiores referências do cenário mundial. Mas os feitos do Fallen não se limitam apenas às realizações dentro do jogo.

Solidário

Em 2015, visando que outros atletas pudessem ter a oportunidade que ele teve, Fallen e alguns outros parceiros criaram a “Golden Chance”: uma competição que a equipe vencedora seria levada para disputar a WinOut Championship nos Estados Unidos. Isso fez com que o cenário nacional crescesse ainda mais. 

Como o universo devolve tudo o que você dá a ele, dos 5 jogadores vencedores da Golden Chance, 2 foram companheiros de equipe do Fallen na line-up duas vezes campeã mundial. O fato do Gabriel Toledo querer ajudar pela simples vontade de ver o sucesso dos outros, contribuiu para o sucesso dele mesmo.

O verdadeiro

Existe uma lenda da tribo Cherokee sobre dois lobos que habitam dentro de cada ser humano. Todo dia ocorre uma batalha terrível entre os dois lobos, e eles representam forças opostas. Um é mal, representando a ira, inveja, arrogância, sentimento de inferioridade, dentre outros. O outro representa a bondade, honestidade, esperança, humildade e claro, força de vontade. No fim, vence a batalha o lobo que você alimentar, e vocês devem saber o lobo que o Fallen escolheu pelo decorrer da sua história.

O Fallen é a inspiração de milhares de pessoas. Ele sofreu com as quedas e se reergueu, sendo levantado e levantando junto com ele todo um cenário. Investiu para que outras pessoas pudessem viver o sonho e usou positivamente o sonho dos outros para poder viver o seu. Ele ensinou e ainda ensina, ele aprendeu e ainda aprende, ele investiu e ainda investe. No fim, tudo que ele é hoje é graças à comunidade e ele faz de tudo para retribuir isso.

Quando você pensa no competitivo de Counter-Strike, o Fallen automaticamente vem a sua mente, e isso não é um mero acaso. Ele é a personificação do cenário nacional, quiçá mundial. Ele foi forjado pela comunidade e a forjou. Ele é o verdadeiro Counter-Strike.